Não há doce sem amargo.
Se há mais de uma constante nessa vida, tem que ser essa. Vivo tempos como se do chuveiro caíssem gotas – melhor, jorrasse – a calda do pudim de minha mãe. O fulgor do presente chega a ofuscar, e quase me farto de tanto, desajeitadamente, tentar abocanhar o máximo de colheradas de alcaçuz que a felicidade, faceira, me oferece. Então, constato que há de fato companhia para o absoluto de se respirar: a necessidade que a Vida – maiúscula por sua ousadia em ser maior que nós – tem de nos provar sua amarga e irrefutável petulância.
Logo agora que me prometeram servir a mais doce das descobertas, você me aparece com esses limões velhos?
Mergulho, assim, nessa limonada – sem açúcar, frescor ou graça que aplaque a Tristeza – também maiúscula, também palpável. Me deixo ali, na secreta esperança de que me estendam ao menos um traço do mais vagabundo brigadeiro que seja, enquanto o azedume prossegue em festa por seu retomado território. Me deixo estar, porque sei que logo avistarei um punhado de abelhas carregando nossa já acordada carga extra de resgate, para aqueles dias em que todos estão ocupados demais com seus próprios limões velhos.
Só rezo para que elas jamais se percam no caminho.